Quando se sabe que o caminho é só um, de nada vale negar. A aceitação e o viver abertamente com ele é um passo que se vai tornando uma parte integrante do ser. Este espaço é uma mera transcrição de uma (trans)mutação em tempo real, num espaço de tempo pré-determinado, que resultará na produção de mais uma loucura. Nesse dia, este trabalho estará realizado e cessará as suas actividades.

Wednesday, April 20, 2005

"é uma das muitas perguntas sem respostas neste meu caminho escolhido... será da loucura?... não será nela que reside a felicidade?... a louca felicidade?...quem poderia responder , não responde. Vivem num outro mundo, o seu, que também é o dos outros. Mas a realidade não os parece atingir, ou pelo menos afectar de uma forma negativa. Reagem apenas a certos estímulos. Parece que conseguem seleccionar o que lhes interessa.... será isto a loucura? será isto a felicidade?"
" Espero que sim." respondeu um louco que escutava as minhas divagações.
"como?" perguntei eu. Mas ele nunca mais me dirigiu qualquer tipo de palavra. Para dizer a verdade, foi a primeira e única vez que me dirigiu qualquer tipo de palavra.

“Descobri com o tempo que o silêncio é um acessório obrigatório neste meu trilho escolhido. Não o silêncio exterior mas parar com o barulho produzido através dos lábios. Um sorriso vale por um milhão de palavras, uma lágrima não tem quantificação possível, uma gargalhada partilhada, também. Um olhar sem brilho, as olheiras que sulcam os olhos, a luminosidade especial que aquele raio de luz transmite nos olhos dos outros, a escuridão sem fundo da pupila, as rugas na testa, a expressão facial, os movimentos nervosos das mãos, o cabelo desgrenhado, os movimentos em falso, o toque, o calor dos raios solares, sentir o vento a despentear os cabelos (para aqueles que o possuem) …
Nada que o barulho entre os lábios possa transmitir ou assemelhar-se, então qual é a razão dessa necessidade de os transmitir? Porquê conspurcar essa pureza? Porquê perder essa capacidade, de sentir? “ rascunhos perdidos de diários de desconhecidos IV, compilação de textos de pessoas que se perderam neste caminhar para a loucura….

Friday, April 15, 2005

"Viver é a coisa menos frequente do mundo
A maior parte das pessoas existe e isso é tudo" Joaquim Pessoa

É isto que tenho aprendido neste caminho em que decidi viver caminhando.

Monday, April 04, 2005

“Há muito tempo já que esquecemos o ritual segundo o qual foi construída a casa da nossa vida…” Walter Benjamin
Fechei o livro e alguém por trás de mim disse:
"Casa? O que é casa? Já não me lembro onde é a minha casa... ou deixou de me incomodar ter uma casa...pelo menos uma física. Ainda pensas onde é a tua casa?"
Não olhei para trás, nem sequer vi a sua cara e não lhe respondi. Será que nunca iria encontrar uma casa para poisar este meu corpo? Este caminho irá alguma vez acabar e terminar nesse tal sítio? No tal covil de Kafka? De onde não quero mais sair por medo do que se passa fora dele? É para isso que caminho?

"Tanto a casa, os rituais ou a sensação de pertença são construídos por actos. Cada um os produz e reproduz em cada novo sítio que habita. Essa é a tua casa, o sítio onde estás..." continuou a voz atrás de mim a declamar.