Quando se sabe que o caminho é só um, de nada vale negar. A aceitação e o viver abertamente com ele é um passo que se vai tornando uma parte integrante do ser. Este espaço é uma mera transcrição de uma (trans)mutação em tempo real, num espaço de tempo pré-determinado, que resultará na produção de mais uma loucura. Nesse dia, este trabalho estará realizado e cessará as suas actividades.

Sunday, May 29, 2005

“Um conhecido decidiu a meio da sua vida que iria aprender a coxear de dezasseis maneiras diferentes e abrir garrafas com os dentes, e perguntou-me:
- Estarei eu a escolher mal o meu caminho?
- Sinceramente não te sei responder”

“Muitos me perguntam:
- Porque vives assim a tua vida? Porque não aproveitas a tua vida como deve ser? Como os demais outros?
A que eu nunca respondo. Não agora. Em tempos ainda tentei argumentar e demonstrar as minhas razões por esta escolha, este caminho, mas eles não estavam, e não estão, interessados em ouvir ou escutar o que os outros, diferentes deles, tinham, têm, para dizer. O objectivo deles é de apenas arrebanhar todas as ovelhas tresmalhadas de volta para o rebanho. E que todos percorram o mesmo trilho, vezes sem conta, sempre o mesmo, sem variações, todos os santos dias.”

Thursday, May 26, 2005

"Existirão boas ou más loucuras?"

Saturday, May 21, 2005

Ele desapareceu simplesmente. Realmente ninguém sabe se ele morreu ou apenas está escondido algures aí pelas ruelas de uma cidade.
O tema recorrente nos seus pedaços de papeis é o trilho, o caminhar, o caminho, o não saber realmente para onde vai, a sensação de abandono que se sente no início, a impossibilidade de retorno, o não querer retornar, a música, o silêncio, o atingir de algo inacessível…
Nunca o conheci, nem sei bem porque mantenho estes papéis no meu caderno de anotações, nem sei porque é que ele mos ofereceu ou porque é que a polícia me perguntou se eu queria aquele lixo e o porquê de o ter aceite….

“A primeira etapa é reconhecer. Aceitar o caminho e não resistir, não negar o que é inevitável.”

Thursday, May 19, 2005

“E gritavam eles com os seus pulmões cheios de tabaco e juventude:

“They put angels in the electric chair, the electric chair, the electric chair

Sat up angels in the electric chair, the electric chair, the electric chair”

Cada um tem as suas loucuras e visões.”

“Já nem sei há quanto estou aqui ou há quanto tempo percorro este caminho. Já soube quanto tempo faltava para lá chegar, mas seguramente que o relógio que media esse tempo não era meu, ou me foi roubado ou media um “tempo” que não era o meu.
Quanto tempo mais demorará este caminho?
Estou cansado e cada vez mais velho…”

“Já me perdi dos dias, dos dias banais da semana, pelos quais as outras pessoas se regem. Muitos fazem-me perguntas simples às quais não sei responder e nem procuro saber, o que a eles causa estranheza.

“Sabes que dia da semana é hoje?”
“Não!”

“Que horas tens?”
“Não tenho pressa!”
“Como?”
“Não tenho horas!”

“A que dia do mês estamos? 12? 11?”
“Sinceramente não sei. Perdi-me desses números faz algum tempo. Larguei-os algures numa esquina e não os pretendo voltar a possuir.”

Tuesday, May 17, 2005

Continuo a transportar a vida dele, desde o dia que me a entregaram nesta forma, em pedaços de papeis, para onde quer que vá.
Os pedaços da vida dele estão espalhados pelo meu caderno de anotações, tal como a vida dele, caoticamente e sem nenhum aparente nexo. Uns ocupam páginas inteiras, alguns outros estão colados com fita-cola, outros soltos e outros ainda colados a outros pedaços, formando teias de relacionamento, que só a mim aparentam algum sentido.
Parece um emaranhado sem nexo e ilógico. Mas para mim existe uma linha orientadora por debaixo, que me é ininteligível na racionalidade que as palavras transportam mas da qual apenas consigo atingir através dos sentidos. Eles, os sentidos, sentem-se reconfortados naquela teia de palavras e relações que são os pedaços da vida dele…a vida dele para mim. O que restou dela e do seu caminho… talvez semelhante ao de todos nós. Sem qualquer espaço dentro da racionalidade instituída pelo próprio humano.

“Eu sei que estes rascunhos que escrevo, sentido não aparentam fazer. Mas é essa noção de teias de relações invisíveis que pretendo explorar e espalhar. Não precisam de ter lógica ou aparentar. Elas existem mesmo que não visíveis ou possíveis de demonstrar através da comunicação. Pode parecer irracional e até mesmo loucura afirmar isso, mas se olharmos vemos que é essa irracionalidade, racional, que nos liga uns aos outros.”

Poucos pedaços restaram da vida dele. Da vida dele apenas restaram uns papéis rasgados, a vida dele, espalhados pelas esquinas que tinha escolhido pernoitar. Todos estavam escritos, todos eles tinham frases diferentes. Mas o sentido era sempre o mesmo… esse tal caminho que vinha a percorrer e a descobrir nos últimos tempos. Num desses papéis estavam estas palavras escritas:
“Aquilo que é mais semelhante à luz que encontro no final deste trilho que decidi percorrer, é aquela sensação que uma música nos pode transferir. Aquela sensação de transcendência, que só reparamos quando o silêncio que indica o término dela e o início da próxima se instala e pairamos ainda por uns breves momentos nessa inacessibilidade de felicidade pura que nos foi possível palpar. Essa é a grande razão porque oiço constantemente a mesma música repetidamente…. Para que o silêncio do seu término nunca se instale…”

Sunday, May 08, 2005

“Não te enganes, o tempo é ilusório mas escorrega constantemente na ampulheta. Pedra sob pedra, sob pedra…infinitamente. Falta sempre pouco…”
“… só faltam quarenta e oito dias…” disse-o inconscientemente. Pela primeira vez tive consciência que o caminho tinha um fim à vista, nem que fosse decretado pelo tempo. Quarenta e dois dias…