Quando se sabe que o caminho é só um, de nada vale negar. A aceitação e o viver abertamente com ele é um passo que se vai tornando uma parte integrante do ser. Este espaço é uma mera transcrição de uma (trans)mutação em tempo real, num espaço de tempo pré-determinado, que resultará na produção de mais uma loucura. Nesse dia, este trabalho estará realizado e cessará as suas actividades.

Tuesday, March 29, 2005

“Já reparei que anda bem mais calado que o normal. Até parece que o silêncio lhe anda a ocupar o espaço.” Disse-me um deles.
Olhei para ele mas nada disse.
“Isso é sinal de que já consegue vislumbrar a luz ao fundo do túnel? Será que é isso?” interrogou-me.
Outra vez nada respondi. Permaneci com a mesma expressão inexpressiva.
“Eu diria que já encontrou o tal caminho que tanto procurava.” Calou-se e olhou por entre os quadros que uma janela desenhava.
Olhei para ele e continuava a não apetecer falar com ele. O silencio é mais sábia que as palavras. O silêncio era mais acolhedor que os ruídos.

Thursday, March 17, 2005

“Se o silêncio é o objectivo, pergunto-me se tem o mesmo significado que o silêncio que rodeia as palavras?”. Deparei-me com esta frase quando folheava o meu caderno na tentativa de me iludir a adormecer.

Tuesday, March 15, 2005

"Será o silêncio um fim a atingir?" apontei eu no meu pequeno caderno de apontamentos que cabia no meu bolso, e sublinhei a vermelho.

Tuesday, March 08, 2005

“SSSSSSHHHHHIIIIIIIIUUUUUUU!” fez ele com o seu dedo em riste sob a sua boca.
“Deixem-me gravar este momento de silêncio” disse depois.

“Qual silêncio? Está aqui um barulho infernal.” Disse-lhe o outro

“O dentro da minha cabeça.”

“HÁ!” disse o outro arrependido de ter perturbado o silêncio do outro.

Monday, March 07, 2005

“As vezes penso e olho para trás. Já nada vejo do que ficou para trás, as memórias estão envoltas numa densa névoa que não me deixa ver com clareza. Viro-me e olho o horizonte à minha frente e a imensidão que falta para chegar aonde não sei bem onde é. Sinto-me frustrado. Sei que já não posso voltar para trás, é-me impossível, e não me apetece caminhar mais nesta incerteza.
Nestas situações a vontade de terminar com tudo, de pendurar o meu corpo numa corda bamba é mais que muita.
Paro, grito o mais que posso. Digo blasfémias, auto flagelo-me…e depois passa. Levanto-me e continuo o meu caminho.”
“Nada demais. O mesmo se passa com as pessoas que vivem lá de fora. Do outro lado. Nada de realmente diferente.” Disse-lhe eu enquanto apontava as suas últimas palavras no meu caderno.
“Talvez demasiado consciente disso. Loucamente consciente.” Murmurou entre dois goles de café sem uma ponta de açúcar.

Thursday, March 03, 2005

“Não me dêem mais realidade. Por hoje chega. Não gosto de viver cá em baixo, na vossa realidade, isso deprime-me. Soltem-me dela, deixem-me livre e a flutuar nos meus pensamentos…lá em cima, por cima dos telhados, entre os pássaros e os aviões que atravessam os céus…”soltou ele enquanto lhe contava alguns acontecimentos na minha vida que me preocupavam. Deu meia volta e foi para o jardim. Fiquei sozinho com aquelas suas afirmações e pensei se a Loucura não era uma fuga à realidade, não como acto de cobardia mas mais como uma condição fisiológica que provocava neles, os Loucos, uma percepção mais intensa do que acontece à nossa volta. E a fuga era a única solução para não se sentirem isolados dos outros, pois na verdade toda as pessoas vivem apenas a sua realidade virtual. Eles, os Loucos, é que tinham a infeliz percepção de que o faziam conscientemente.

“Pergunto-me se este caminho terá alguma vez um fim? Isto é, se tem como objectivo ir ter a algum lado…se a escolha de caminhar nele não é o objectivo e o que interessa não é o fim mas o surgir de uma necessidade de procura…desse fim…que pode nunca vir a chegar ou a chegar-se lá.” Escrevi eu num dos meus diários…